
O Banco Central do Brasil (BC) divulgou nesta semana os resultados da primeira fase de testes do Drex, a futura moeda digital oficial brasileira, sinalizando que a implementação completa do projeto ainda exigirá mais análises técnicas e avanços regulatórios antes de alcançar a população em larga escala.
Embora o projeto represente um dos passos mais ambiciosos do país rumo à digitalização do sistema financeiro nacional, o relatório técnico apontou limitações nas soluções testadas até agora e reforçou a importância de uma abordagem gradual, segura e alinhada às necessidades do mercado e da sociedade.
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O que é o Drex?
A moeda digital oficial do Brasil
O Drex é a sigla que dá nome ao Real Digital e traduz as principais características do projeto:
- D: Digital
- R: Real
- E: Eletrônico
- X: Conexão
Trata-se de uma CBDC (Central Bank Digital Currency) — uma moeda digital de banco central, emitida exclusivamente pelo Banco Central do Brasil. Diferente das criptomoedas tradicionais, como o Bitcoin, o Drex não será minerável e será controlado centralizadamente pelo Estado.
Seu propósito é ampliar o alcance da moeda nacional no ambiente digital, garantindo segurança, rastreabilidade, redução de custos e maior inclusão financeira.
O que foi testado até agora?
Primeira fase revelou desafios técnicos e operacionais
Desde março de 2023, o BC conduz a fase piloto do Drex, com participação de instituições financeiras, empresas de tecnologia e entes do governo. Nessa etapa inicial, foram testados aspectos como:
- Segurança da rede blockchain utilizada
- Privacidade das informações dos usuários
- Integração com sistemas bancários já existentes
- Operações simuladas de compra e venda de ativos digitais
O relatório divulgado agora revelou que algumas soluções ainda precisam de aprimoramento, especialmente no que diz respeito ao sigilo das transações e à interoperabilidade entre diferentes plataformas.
Foco da próxima fase: privacidade e adequação regulatória
Nova etapa deve durar mais alguns meses
O próximo ciclo de testes, que já está em andamento, terá como foco central as questões de privacidade e proteção de dados dos usuários — pontos considerados críticos para o avanço do Drex em um ambiente seguro e compatível com as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Além disso, o Banco Central busca avaliar como alinhar o funcionamento da moeda digital com as exigências do setor bancário, do varejo e dos órgãos de controle, como a Receita Federal.
Comparação entre Drex e Pix

Complementaridade, não substituição
Embora o Drex seja frequentemente comparado ao Pix, há diferenças importantes entre as duas tecnologias:
Característica | Pix | Drex |
---|---|---|
Tipo de sistema | Transferência instantânea | Moeda digital oficial |
Lançamento | 2020 | Em testes desde 2023 |
Finalidade | Pagamentos rápidos e de baixo valor | Transações maiores e mais estruturadas |
Emissor | Bancos (por meio do BC) | Exclusivamente o Banco Central |
Tecnologia | Centralizada | Baseada em blockchain permissionada |
O Pix continuará sendo utilizado para operações cotidianas, como pagamentos entre pessoas e compras no comércio. Já o Drex será voltado a transações de maior valor e complexidade, como aquisição de imóveis, automóveis ou investimentos em ativos digitais.
Benefícios esperados com o Drex
Inclusão financeira, redução de custos e eficiência tributária
Mesmo ainda em fase de testes, o projeto do Drex já apresenta benefícios promissores para a economia nacional. Entre eles:
1. Inclusão financeira
Poderá facilitar o acesso de pessoas não bancarizadas a produtos financeiros por meio de plataformas digitais seguras e acessíveis.
2. Redução de custos operacionais
Estudos apontam que o uso do Drex pode reduzir os custos das instituições financeiras em até 40%, ao automatizar processos e eliminar intermediários.
3. Simplificação tributária
A moeda digital poderá ser integrada ao novo sistema de Imposto sobre Valor Agregado (IVA), previsto na Reforma Tributária, permitindo um recolhimento automatizado de tributos, reduzindo sonegação e aumentando a eficiência do Fisco.
4. Transparência e rastreabilidade
O uso de blockchain permitirá maior controle sobre o fluxo do dinheiro, dificultando lavagem de dinheiro e operações ilegais, sem comprometer o sigilo dos dados pessoais.
Perspectiva de lançamento do Drex
Ainda sem data definida, mas com previsões para 2025
O Banco Central não definiu uma data oficial para a liberação do Drex ao público. No entanto, especialistas projetam que, até 2025, a moeda digital possa representar até 30% das transações digitais no país.
Segundo Fábio Araújo, coordenador do projeto no Banco Central, o lançamento será gradual e condicionado à robustez técnica e jurídica do sistema:
“Estamos construindo um modelo que precisa ser seguro, inclusivo e funcional para toda a sociedade. Não há espaço para pressa. A moeda digital do Brasil será lançada quando estivermos prontos”, afirmou.
Desafios para os próximos passos
Interoperabilidade e confiança do consumidor
Apesar do otimismo, o Drex ainda enfrenta desafios técnicos e de aceitação pública. Entre os principais obstáculos estão:
- Garantia da interoperabilidade entre Drex, Pix, contas digitais e serviços financeiros já existentes;
- Manutenção da confiança da população, especialmente em relação à segurança de seus dados e ao uso do Drex por entes públicos;
- Desenvolvimento de um ecossistema de parceiros que usem o Drex de forma criativa e útil para os cidadãos.
O Brasil e o cenário internacional de moedas digitais

Tendência global das CBDCs
O Brasil não está sozinho no desenvolvimento de uma moeda digital de banco central. Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), mais de 130 países já estudam ou testam suas próprias CBDCs, entre eles:
- China, com o e-CNY em fase piloto em grandes cidades
- União Europeia, com o projeto do Euro Digital
- Estados Unidos, que analisam os impactos de um possível dólar digital
O Drex coloca o Brasil entre os países mais avançados neste processo, com potencial de liderança na América Latina.
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