Consignado com FGTS: tudo o que você precisa saber e os cuidados essenciais

FGTS

Uma nova modalidade de crédito consignado já está disponível para trabalhadores com carteira assinada, e promete acesso facilitado a empréstimos com garantia do FGTS. O anúncio trouxe expectativas de alívio financeiro para muitos brasileiros, especialmente em tempos de orçamento apertado.

No entanto, órgãos de defesa do consumidor, como o Procon-SP, soaram o alarme: antes de contratar, é preciso redobrar a atenção. O uso do Fundo de Garantia como garantia do crédito pode representar riscos sérios para a saúde financeira do trabalhador, especialmente em situações de instabilidade no emprego.

Neste artigo, detalhamos como funciona o novo modelo, quais cuidados tomar, o que dizem os especialistas e em que situações o crédito pode realmente valer a pena.

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Como funciona o novo crédito com garantia do FGTS

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Imagem: Freepik e Canva

Percentual de comprometimento da renda

Nesta modalidade, o empréstimo pode comprometer até 35% do salário do trabalhador. Esse percentual é descontado diretamente da folha de pagamento, mecanismo que garante menor risco para as instituições financeiras, mas aumenta a responsabilidade do contratante.

Uso do FGTS como garantia

O crédito pode utilizar como garantia:

  • Até 10% do saldo do FGTS
  • Ou 100% da multa rescisória, em caso de demissão sem justa causa

Esse modelo oferece mais segurança às instituições financeiras, mas pode representar a perda de uma reserva importante para o trabalhador, especialmente em situações de desemprego ou emergência.

Alertas do Procon-SP

Reserva estratégica em risco

Segundo Luiz Orsatti Filho, diretor-executivo do Procon de São Paulo, o uso do FGTS como garantia precisa ser avaliado com muito critério. Ele explica:

“Para os trabalhadores da iniciativa privada, o FGTS é uma reserva estratégica. Usá-lo como garantia pode se tornar um problema no futuro.”

A preocupação do Procon é que a facilidade de acesso ao crédito pode encorajar contratações impulsivas ou desnecessárias, com sérias consequências no médio e longo prazo.

Juros do consignado e transparência na operação

Obrigatoriedade de informações completas

A contratação do crédito deve ser feita com total transparência. O trabalhador tem o direito de receber previamente:

  • Valor total contratado com e sem juros
  • Taxa de juros mensal e anual
  • Número total de parcelas
  • Periodicidade dos pagamentos
  • Datas de início e término dos descontos
  • Custo efetivo total (CET) da operação

Proibição de carência para pagamento

Não é permitido oferecer carência para o início dos pagamentos. Isso significa que assim que o trabalhador recebe o valor do empréstimo, as parcelas começam a ser descontadas imediatamente.

Sem tarifas adicionais

A taxa de juros divulgada deve contemplar todos os custos da operação. Tarifas adicionais são proibidas e qualquer cobrança não prevista pode ser denunciada aos órgãos competentes.

Descontos feitos diretamente pelo eSocial

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Imagem: Divulgação / eSocial

O desconto mensal é processado por meio do eSocial, a plataforma do governo que unifica dados trabalhistas, previdenciários e fiscais. Essa centralização garante que o desconto seja feito diretamente da folha de pagamento, tornando o processo mais seguro para as instituições e automático para o trabalhador.

Contratação só pelos canais oficiais

CTPS Digital como porta de entrada

A proposta do empréstimo só pode ser recebida através do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital). Nenhuma instituição está autorizada a fazer a oferta por telefone ou redes sociais.

Depois de receber a proposta no aplicativo, o trabalhador deve seguir com a contratação apenas pelos canais oficiais da instituição financeira.

Riscos de golpes e fraudes

O Procon-SP e especialistas em Direito do Consumidor alertam para a crescente incidência de golpes envolvendo falsas propostas de crédito consignado. Por isso, é fundamental que o trabalhador:

  • Desconfie de contatos por telefone ou mensagens
  • Verifique a reputação da instituição financeira
  • Utilize exclusivamente canais oficiais, como aplicativos e sites com certificado de segurança

Quando vale a pena contratar o consignado com FGTS?

FGTS
Imagem: Brenda Rocha – Blossom/shutterstock

Opinião de especialista: só em último caso

A advogada Renata Abalem, especialista em Direito do Consumidor, aconselha que o empréstimo seja considerado apenas como última alternativa:

“O ideal é não fazer dívidas. Se for necessário, que seja para a aquisição de um bem durável. Se for para quitar outra dívida, é preciso ter certeza de que será vantajoso e não resultará em um prejuízo ainda maior.”

Avaliação de custo-benefício

Antes de contratar, o trabalhador deve responder às seguintes perguntas:

  • O valor será usado para algo realmente necessário?
  • Existe outra fonte de recurso mais segura?
  • As condições do empréstimo são mais vantajosas do que as dívidas atuais?
  • O desconto de até 35% da folha de pagamento será suportável no orçamento mensal?

Alternativas ao crédito consignado

Renegociação de dívidas

Antes de optar por um novo empréstimo, vale buscar renegociações com credores atuais, o que pode resultar em taxas menores e prazos mais flexíveis.

Empréstimos com garantia de bens

Quem possui bens como carro ou imóvel pode considerar modalidades de crédito com garantia real, geralmente com juros mais baixos que o consignado com FGTS.

Planejamento financeiro

Buscar educação financeira e reorganizar o orçamento doméstico pode eliminar a necessidade de crédito. Cortar gastos desnecessários e priorizar dívidas com juros mais altos pode ser o primeiro passo.

Conclusão: atenção antes de usar o FGTS como garantia

A nova linha de crédito consignado com garantia do FGTS amplia o acesso ao crédito para trabalhadores com carteira assinada, mas também aumenta os riscos. Embora a promessa de facilidade e juros mais baixos pareça atrativa, é essencial que a decisão seja embasada em planejamento financeiro consciente.

Utilizar uma reserva como o FGTS, que pode ser vital em momentos de vulnerabilidade, deve ser a última opção, e não uma saída imediata para problemas financeiros pontuais.

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