
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira (14 de abril de 2025) o registro da vacina contra chikungunya desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica europeia Valneva.
A decisão representa um marco no enfrentamento de uma das arboviroses que mais preocupam autoridades sanitárias em regiões tropicais, especialmente no Brasil, onde os surtos de chikungunya têm causado impactos significativos à saúde pública.
Com eficácia comprovada e reconhecimento internacional, o imunizante deverá reforçar a resposta preventiva à doença, sobretudo em áreas endêmicas.
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Eficácia comprovada em estudos clínicos

A vacina teve sua eficácia demonstrada em estudos clínicos realizados com 4 mil voluntários entre 18 e 65 anos. Os dados apontaram que 98,9% dos participantes desenvolveram anticorpos neutralizantes contra o vírus da chikungunya após uma única dose.
Essa taxa elevada de imunogenicidade foi um dos principais fatores que levaram à aprovação do imunizante por órgãos regulatórios de peso, como a FDA (Food and Drug Administration), dos Estados Unidos, e a EMA (Agência Europeia de Medicamentos), antes mesmo da chancela brasileira.
Indicação e contraindicações
A vacina é recomendada para adultos a partir de 18 anos. No entanto, a Anvisa destacou que ela não deve ser aplicada em grávidas, pessoas com imunodeficiência ou imunossuprimidas. A medida segue diretrizes de segurança, uma vez que essas populações exigem cuidados específicos no uso de imunobiológicos.
Produção e distribuição: plano internacional e versão nacional

Embora a fabricação inicial da vacina ocorra na Alemanha, pela empresa IDT Biologika GmbH, o Instituto Butantan já trabalha em uma versão nacional do imunizante. A proposta é utilizar componentes produzidos no Brasil, o que poderá facilitar a futura incorporação da vacina ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o Butantan, a nacionalização da produção visa garantir maior autonomia ao país na luta contra a chikungunya e reduzir custos logísticos e operacionais. Ainda não há data definida para o início da produção local, mas o processo já está em fase de desenvolvimento tecnológico.
Termo de compromisso com a Anvisa
Para a liberação do registro, a Anvisa firmou com o Instituto Butantan um termo de compromisso que prevê a realização contínua de estudos pós-registro. Esses estudos são voltados à avaliação de eficácia e segurança da vacina em longo prazo, especialmente com a aplicação em larga escala.
Essa exigência reforça a estratégia de vigilância ativa da agência reguladora e contribui para a construção de um banco de dados robusto sobre os efeitos do imunizante em diferentes perfis populacionais.
O que é a chikungunya?
A chikungunya é uma doença viral transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e da zika. Os sintomas incluem febre alta, dores intensas nas articulações, cefaleia, erupções cutâneas e fadiga. Em alguns casos, as dores articulares podem persistir por meses, causando limitações severas.
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado aumento significativo no número de casos, especialmente em regiões Norte e Nordeste. De acordo com o Ministério da Saúde, somente em 2024 foram confirmados mais de 180 mil casos em todo o território nacional.
Importância da vacina no cenário brasileiro
A aprovação da vacina pelo Brasil representa uma resposta científica de peso diante do avanço da doença. Até então, não havia imunizante disponível para a população brasileira, o que tornava a prevenção dependente exclusivamente do combate ao mosquito transmissor.
Com a chegada da vacina, abre-se a possibilidade de campanhas de imunização em áreas com alta incidência da doença, o que pode reduzir não apenas o número de casos, mas também as complicações clínicas e os gastos com internações e tratamentos prolongados.
Vacina pode integrar futuras campanhas do SUS
Ainda que não haja previsão oficial de quando o imunizante será incorporado ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), especialistas acreditam que a versão nacional poderá facilitar esse processo. O uso de insumos brasileiros e a adaptação ao sistema de saúde pública tornam a vacina mais acessível e sustentável para o país.
Além disso, a inclusão no SUS seria fundamental para garantir cobertura vacinal em comunidades mais vulneráveis, onde o risco de contágio é maior e o acesso à saúde é mais limitado.
Próximos passos
Com a aprovação do registro pela Anvisa, o próximo passo será a liberação para comercialização da vacina no mercado privado e, futuramente, sua integração ao SUS. O Instituto Butantan deve continuar os estudos complementares exigidos pelo termo de compromisso e acelerar o desenvolvimento da versão nacional.
Ao mesmo tempo, campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação e do controle do Aedes aegypti deverão ser intensificadas, principalmente em regiões de maior risco.
A aprovação da vacina contra chikungunya desenvolvida pelo Instituto Butantan marca um avanço histórico na imunização contra doenças tropicais no Brasil. Com alta eficácia, reconhecimento internacional e perspectiva de produção nacional, o imunizante representa uma ferramenta poderosa para a saúde pública.
Imagem: rafapress / Shutterstock.com