Mutilação genital: a trágica realidade que mata meninas na África

A mutilação genital feminina (FGM/C) continua sendo uma prática cultural enraizada em diversas regiões do mundo, afetando cerca de 200 milhões de meninas e mulheres. Presente em pelo menos 25 países africanos, além do Oriente Médio e partes da Ásia, essa intervenção tem graves consequências para a saúde física e mental das vítimas. Apesar dos esforços para erradicá-la, a FGM/C persiste até mesmo em comunidades de imigrantes espalhadas pelo mundo.A prática envolve a remoção parcial ou total dos órgãos genitais femininos ou qualquer outro tipo de modificação prejudicial, geralmente sem anestesia ou condições médicas adequadas. Os motivos para a realização variam entre crenças culturais, religiosas e sociais, muitas vezes associadas ao controle da sexualidade feminina e à aceitação para o casamento.Leia mais:Placas tectônicas do Pacífico vão abrir a Terra, diz estudoNo entanto, além da dor intensa e do trauma psicológico, a FGM/C pode resultar em complicações graves, como infecções, hemorragias e até a morte. Estudos recentes indicam que a prática está entre as principais causas de morte de meninas e mulheres jovens nos países onde ainda é realizada.Impacto na mortalidade femininaPesquisadores analisaram dados sobre a incidência da FGM/C e sua relação com taxas de mortalidade feminina em 15 países africanos entre 1990 e 2020. O estudo apontou que aproximadamente 44.000 meninas e mulheres morrem anualmente devido a complicações causadas pela mutilação. Em algumas nações, o número de vítimas fatais da prática supera até mesmo doenças como HIV/Aids, sarampo e meningite.A pesquisa também mostrou que a idade em que a mutilação ocorre varia de acordo com o país. Na Nigéria, 93% das meninas submetidas ao procedimento têm menos de cinco anos, enquanto em Serra Leoa, a maioria passa pela prática entre os 10 e 14 anos. A taxa de mortalidade tende a ser maior em faixas etárias onde a FGM/C é mais comum, evidenciando seu impacto letal.Regiões mais afetadasOs dados revelam que a mutilação genital feminina atinge níveis alarmantes em alguns países. Na Guiné, 97% das mulheres já passaram pelo procedimento, enquanto no Mali essa taxa chega a 83% e em Serra Leoa, 90%. No Egito, onde a prática também é difundida, 87% das meninas e mulheres foram submetidas à mutilação.A prevalência da FGM/C nesses países reflete desafios estruturais, como a falta de acesso a informação, a pressão social e a ausência de fiscalização efetiva, mesmo em locais onde a prática é proibida por lei.Além dos números: impactos físicos e psicológicosAs consequências da mutilação genital vão além das estatísticas. O procedimento pode levar a hemorragias severas, infecções generalizadas e complicações no parto, aumentando significativamente os riscos para mães e bebês. Além disso, as vítimas frequentemente carregam traumas psicológicos profundos, que podem resultar em depressão, transtornos de ansiedade e dificuldades de relacionamento.Em muitas comunidades, a FGM/C está diretamente ligada às expectativas culturais e ao status social das mulheres, o que torna sua erradicação ainda mais desafiadora. Muitas famílias acreditam que submeter suas filhas à prática é essencial para garantir um futuro digno, o que reforça a necessidade de campanhas de conscientização e educação.Urgência na erradicação da práticaA mutilação genital feminina não é apenas uma violação dos direitos humanos, mas também uma questão de saúde pública que demanda ação imediata. Embora algumas iniciativas tenham obtido avanços, os especialistas alertam que as medidas atuais ainda são insuficientes para conter a crise.A pandemia de Covid-19 agravou o cenário, interrompendo programas de prevenção e resultando em um aumento significativo no número de casos. A ONU estima que a crise sanitária pode ter levado a 2 milhões de novas vítimas, o que poderia gerar mais de 4.000 mortes adicionais nos países analisados.O que pode ser feito?O combate à FGM/C exige uma abordagem integrada. Reformas legais são essenciais, mas não bastam por si só. O envolvimento da comunidade, a ampliação do acesso à educação e o fortalecimento de redes de apoio são fundamentais para mudar mentalidades e práticas culturais.Campanhas de informação têm se mostrado eficazes em algumas regiões. No Egito, por exemplo, o uso de mídias sociais e filmes educativos ajudou a reduzir as taxas de mutilação. No entanto, especialistas reforçam que qualquer estratégia de erradicação deve ser conduzida com o envolvimento das populações locais, garantindo que as mudanças ocorram de maneira sustentável.A pesquisa destaca um ponto crucial: o fim da mutilação genital feminina não se trata apenas de preservar tradições ou mudar costumes, mas de salvar vidas. Cada dia sem ação representa milhares de mortes evitáveis. Por isso, a erradicação da prática deve ser tratada com a mesma urgência que o combate às doenças infecciosas mais letais do mundo.
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