
Jorge F. Negrete P.
Sua missão era “explorar novos mundos estranhos, buscar novas formas de vida e novas civilizações e se aventurar onde nenhum homem jamais esteve”. Refiro-me à Enterprise, a icônica nave espacial da série de televisão Star Trek, de 1966.
A história da empresa Intel está fadada à analogia com essa série de televisão, situada entre a ficção científica, a prospecção tecnológica e o drama épico de uma empresa que se reinventa de tempos em tempos. Falo de uma companhia que liderou as maiores batalhas tecnológicas, “onde nenhum homem jamais esteve antes”.
A busca e a conquista de planetas têm sido uma obsessão de governos e da geopolítica, especialmente na década de 1960, com a corrida espacial e a chegada à Lua. Naquela época, Rússia e Estados Unidos iniciaram uma disputa para demonstrar qual país chegaria primeiro. O presidente Kennedy liderou esse momento histórico com a frase: “Escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis”. Em seguida, propôs que os Estados Unidos colocassem um homem na Lua antes do fim da década de 1960. A missão Apolo 11, em 1969, cumpriu esse objetivo.
Há alguns anos, destaquei que a fronteira tecnológica não está no universo, mas no diminuto, onde se fala do atômico e dos nanômetros. O mundo digital se sustenta em dois pilares: a infraestrutura digital, que massifica e conecta a sociedade digital, e os semicondutores, que viabilizam a digitalização de tudo.
Gordon Moore foi um empresário, engenheiro e visionário norte-americano, cofundador e presidente da Intel. Entre 1965 e 1975, Moore observou que o número de componentes em um circuito integrado dobrava a cada dois anos. Ou seja, a cada dois anos, a capacidade de processamento de dados se duplicava. Carver Mead, colega de Moore, popularizou a expressão “Lei de Moore” para definir esse fenômeno. Mead demonstrou que, à medida que os transistores diminuíam de tamanho, tornavam-se “mais rápidos, melhores, mais frios e mais baratos com a miniaturização”. Essa previsão se tornou uma realidade empírica na indústria de semicondutores, impactando a inovação e a transformação tecnológica.
A Intel iniciou uma jornada fascinante que, na série Star Trek, é representada pela frase Ad Astra per Aspera, que significa “através das dificuldades, rumo às estrelas”. Neste caso, tomo a liberdade de substituir Star Trek por Intel, e a frase ficaria Ad Astra per Diminutum, ou seja, “através das dificuldades, rumo ao diminuto”.
A guerra dos semicondutores tem uma longa história. Boa parte do capital intelectual da Intel está presente em seus concorrentes e em diferentes partes do mundo. A relocalização (nearshoring) dos processadores começou com o envio das fábricas para Taiwan (TSMC) e Europa (ASML), utilizando uma tecnologia desenvolvida pela Intel no design das máquinas que fabricam os processadores.
Durante o primeiro mandato do presidente Trump, começou a nova Guerra Fria, que poderíamos chamar de “A guerra digital”, e ela continuou com o presidente Biden. Os EUA querem a indústria de semicondutores de volta ao seu território e não querem que a China tenha acesso a essa tecnologia
O momento que vivemos levou as empresas de semicondutores ao topo das maiores empresas do mundo, como Nvidia e TSMC. Essa tecnologia viabiliza e impulsiona a Inteligência Artificial, o novo recurso digital da nossa sociedade.
É aqui que entra a nomeação de Lip Bu Tan, novo CEO da Intel e uma lenda aos 65 anos. Bu Tan nasceu na Malásia, foi criado em Singapura e educado na Califórnia. Ele é presidente do fundo de investimento mais bem-sucedido em semicondutores, a Walden International, e um empresário com ambição e experiência para executar. Chega à Intel com a mentalidade de uma startup e a urgência de um fundo de investimento, para liderar a empresa de processadores mais emblemática do planeta.
Nas palavras do senhor Spock e de sua cultura vulcana: “vida longa e próspera”.
Presidente da Digital Policy Law
X / @fernegretep