
A surpreendente desvalorização do dólar frente ao real reacendeu no governo Lula (PT) a expectativa de um alívio na política monetária brasileira. Com a cotação da moeda norte-americana recuando para R$ 5,629 após um tarifaço anunciado por Donald Trump, integrantes do Planalto vislumbram a possibilidade de o Banco Central iniciar cortes na taxa básica de juros ainda em 2025. A mudança cambial, somada à recente troca no comando da autoridade monetária, é vista como uma janela de oportunidade para impulsionar o crescimento econômico sem sacrificar a estabilidade inflacionária.
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Desvalorização cambial sinaliza possível mudança na política monetária

Gabriel Galípolo e a mudança de direção no BC
Desde o fim de 2024, o Banco Central — agora comandado por Gabriel Galípolo — vinha adotando uma postura mais rígida. A pressão cambial e o avanço da inflação levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a Selic, que passou de 11,25% para os atuais 14,25% ao ano, com três aumentos consecutivos de um ponto percentual.
A justificativa era clara: a disparada do dólar, que alcançou R$ 6,20 no final do ano passado, vinha pressionando os preços internos, comprometendo o controle inflacionário. Contudo, a recente valorização do real mudou o clima no governo e abriu espaço para novas perspectivas.
Sinais positivos e expectativas no Planalto
A leitura no entorno do presidente Lula é de que, mantido o atual patamar do dólar e na ausência de choques inflacionários, o Banco Central terá margem para iniciar uma redução gradual dos juros ainda no segundo semestre.
Lula e o BC: de tensão a sintonia?
A política de juros tem sido um dos principais pontos de tensão entre o presidente e o Banco Central, especialmente durante a gestão de Roberto Campos Neto. Lula criticou duramente a manutenção da Selic em níveis elevados mesmo com sinais claros de desaceleração econômica. A nomeação de Galípolo foi vista como uma chance de maior sintonia entre a política econômica do governo e as diretrizes do BC.
Como o câmbio influencia os juros?

A relação entre câmbio e juros é direta. A valorização do real:
- Reduz o custo das importações;
- Alivia pressões inflacionárias;
- Facilita o controle de preços internos;
- Gera confiança nos mercados financeiros.
Esses fatores permitem ao Banco Central adotar uma política monetária menos agressiva, reduzindo gradualmente os juros para estimular a atividade econômica.
O impacto dos juros altos na economia brasileira
Desestímulo ao consumo e à produção
A taxa básica de juros, a Selic, define o custo do crédito no país. Quando elevada:
- O crédito encarece: financiamentos e empréstimos ficam menos acessíveis;
- O consumo cai: famílias consomem menos, o que desacelera a economia;
- A produção diminui: com menor demanda, as empresas reduzem o ritmo de produção.
Esse ciclo gera uma desaceleração generalizada da atividade econômica, podendo levar à recessão.
Inibição do investimento produtivo
Juros elevados desestimulam o investimento em setores produtivos, como indústria e infraestrutura. Em vez disso, investidores preferem aplicações em renda fixa. Isso acarreta:
- Atrasos em projetos: empresas adiam planos de expansão;
- Menos inovação: falta de recursos para modernizar processos;
- Dificuldade para novos negócios: empreendedores enfrentam barreiras de financiamento.
O resultado é uma economia menos dinâmica e com menor capacidade de gerar empregos.
Aumento do endividamento público
O governo também sofre com juros altos, pois paga mais para se financiar. Isso significa:
- Mais gastos com juros da dívida pública;
- Menos recursos para áreas essenciais, como saúde, educação e segurança;
- Maior dificuldade em cumprir metas fiscais.
Esse cenário compromete a capacidade do Estado de investir em políticas sociais e infraestrutura.
Enfraquecimento da indústria nacional
A combinação de juros elevados e demanda interna fraca atinge em cheio a indústria. As consequências incluem:
- Perda de mercado para importados, mesmo com dólar em alta;
- Menor competitividade, devido à falta de inovação;
- Desindustrialização, com perda de empregos qualificados.
Esse processo reduz a capacidade do Brasil de gerar valor agregado e amplia sua dependência de commodities.
Freio ao crescimento do PIB
A junção de todos esses efeitos — consumo baixo, investimento escasso, produção retraída — afeta diretamente o Produto Interno Bruto. A economia cresce pouco, ou até encolhe, o que agrava problemas estruturais como:
- Desemprego;
- Pobreza;
- Desigualdade social.
Possível queda da Selic: um novo ciclo de crescimento?

A expectativa de corte na Selic reacende o otimismo entre empresários e economistas. A redução dos juros pode:
- Estimular o consumo interno;
- Baratear o crédito para empresas e famílias;
- Aumentar o investimento produtivo;
- Reaquecer o mercado de trabalho.
Mas há riscos
Apesar do cenário promissor, o governo e o BC precisam estar atentos a riscos que podem frustrar as expectativas:
- Volatilidade externa: novas medidas protecionistas de Trump ou crises geopolíticas podem pressionar o dólar novamente;
- Inflação doméstica: caso volte a subir, impedirá cortes nos juros;
- Instabilidade fiscal: dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas podem comprometer a credibilidade do país.
Conclusão: equilíbrio será chave
A recente queda do dólar reacende esperanças de um ciclo virtuoso na economia brasileira, com juros mais baixos, maior crescimento e estabilidade. No entanto, o sucesso dessa trajetória depende de uma série de fatores internos e externos.
O papel do Banco Central será crucial para calibrar sua atuação com responsabilidade, mas também com sensibilidade ao cenário macroeconômico. O Brasil tem diante de si uma oportunidade rara de alinhar câmbio favorável, inflação sob controle e política monetária mais flexível. Aproveitá-la exigirá competência técnica e articulação política.