Crítica: “Branca de Neve” diverte sem ter grandes momentos

Tentando equilibrar discussões atuais com o clima inocente da primeira animação feita por Walt Disney, “Branca de Neve” chega aos cinemas. O filme estreia nesta quinta-feira (20/03) no Brasil, trazendo Rachel Zegler como a protagonista e Gal Gadot como antagonista. Diferente de outras releituras de desenhos animados, dessa vez a Disney aposta de vez em um filme para crianças.

“Branca de Neve” traz uma faz histórias infantis mais célebres. A princesa que sofre com a madrasta má, uma bruxa que inveja a beleza da jovem. No clássico, seu nome se deve ao tom de pele branco como a neve. Fugindo da madrasta, acaba vivendo com sete anões, mas a presença da vilã ainda sonda a garota. A adaptação agora muda a história para uma princesa que nasceu em meio a uma nevasca. A explicação é tão simples que não traz nenhuma emoção ou novidade.

Vilã

Com vários atos musicais, Rachel Zegler se esforça para ocupar seu papel. Por vezes, é notável que tem que se controlar pela direção desequilibrada de Marc Webb. Rachel traz nuances e não deixa dúvidas de que sabe cantar. Mas parece perdida em cena, quando tem que contracenar com rostos feitos em computador dos anões ou com atores bem abaixo de suas habilidades. O par romântico vira agora um homem comum, e não um príncipe, mas indignado com a rainha. Assim, se cria uma dinâmica mais interessante entre ele (interpretado por Andrew Burnap) e Branca de Neve. Nada incrível, mas eficaz.

Gal Gadot no papel da Madrasta Má não consegue mais enganar ninguém: é péssima atriz. Linda, mas não consegue nem mesmo entregar algo interessante. É caricata de forma excessiva, mesmo pensando em um filme para o público infantil. Quando canta, consegue piorar. A dinâmica entre as duas é desigual e a direção não se esforça para corrigir isso. Sem uma vilã boa, o filme desanda. Só resta aceitar.

Polêmicas

As diversas polêmicas envolvendo o filme desde sua produção atrapalham a divulgação. O anúncio de Rachel Zegler, de ascendência colombiana, para o papel principal gerou comentários racistas na internet. Esse tipo de polêmica já foi usado pela Disney anteriormente, como no caso de “A Pequena Sereia”, então a tendência era favorecer o filme a chegar no topo das discussões. Mas quando Zegler deu entrevistas criticando a história original, isso afetou sua participação no longa. Assim como as dissidências políticas entre ela (pró-Palestina) e Gadot (pró-Israel) tem dificultado a promoção.

O fato de terem trocado os anões, que deveriam ser interpretados por atores com nanismo, por uso de CGI também gerou discussão. A decisão foi afetada por comentários do ator Peter Dinklage, que não queria ver pessoas pequenas em situações vexatórias. Só que isso gerou um efeito contrário, com boa parte da comunidade de pessoas pequenas reclamando que o fato tiraria empregos deles. No fim, a Disney optou mesmo pelos anões feitos por computador.

Inclusive, a trama deles é pouco explorada. Parecem ter poderes mágicos, mas nunca os usam. São fisicamente muito parecidos com o antigo desenho, o que gera uma nostalgia nos fãs mais velhos, mas não conseguem trazer muito carisma. Frases prontas e estereotipadas são o máximo que desenvolvem. Apesar disso, uma das músicas mais marcantes e animadas é da Branca de Neve ensinando os anões a cuidar da casa.

Visual e roteiro

O aspecto visual do filme é bonito, mas destoa em diversos momentos. Com o uso excessivo de CGI, quando o cenário é natural, como na floresta, parece deslocado. Cenários reais seriam mais interessantes. O roteiro também é fraco, pouco desenvolvido e não traz a inovação que prometia nas primeiras entrevistas. Consegue homenagear o clássico e conta uma história, mas deixa passar potenciais metáforas interessantes e situações bem óbvias que mereciam mais desenvolvimento. O filme está longe de ser uma ameaça ao público mais irritado e crítico aos avanços sociais, que criticavam Zegler desde o início. Não há grandes momentos feministas nem discussões interessantes sobre questões sociais contemporâneas.

“Branca de Neve” não consegue ser memorável, nem em visual e muito menos em atuações, mas diverte com seu clima pueril e inocente que atende a um público mais infantil.

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